domingo, 23 de dezembro de 2007

o Bairro

o senhor Calvino

"do alto de mais de trinta andares, alguém atira da janela abaixo os sapatos de Calvino e a sua gravata. Calvino não tem tempo para pensar, está atrasado, atira-se também da janela, como que em perseguição. Ainda no ar alcança os sapatos. primeiro, o direito: calça-o; depois, o esquerdo. (...) olha para baixo, já se vê o chão. Antes, porém, a gravata; Calvino está de cabeça para baixo e com um puxão brusco a sua mão direita apanha-a no ar e, depois, com os seus dedos apressados, mas certeiros, dá as voltas necessárias para o nó: a gravata está posta. Os sapatos, olha de novo para eles: os atacadores bem apertados; dá o último jeito no nó da gravata, bem a tempo, é o momento: chega ao chão impecável."


o senhor Valéry

"o senhor Valéry era pequenino, mas dava muitos saltos. ele explicava: sou igual às pessoas altas só que por menos tempo."


o senhor Henri

"... é verdade que se um homem misturar absinto com a realidade fica com uma realidade melhor. ...mas também é certo que se um homem misturar absinto com a realidade fica um absinto pior. ...muito cedo tomei as opções essenciais que há a tomar na vida - disse o senhor Henri. ... nunca misturei absinto com a realidade para não piorar a qualidade do absinto."


o senhor Juarroz

"o senhor Juarroz por vezes punha uma venda nos olhos para não ser distraído pelas formas e cores das coisas. quando as coisas além de existirem também faziam sons, o senhor Juarroz, em apoio da venda, utilizava algodão nos ouvidos. porém, certas coisas, devido aos seus aromas fortes, insistiam em infiltrar-se pelo nariz do senhor Juarroz, o que o levava, por vezes, a tapá-lo com uma mola."

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